Torpor




Fiz um grande esforço para não gritar, olhando pela janela do dia a dia eu me vi preso no meio do tédio, envelhecendo sozinho e perdendo a cor nesse mundo cinza.
Meus sonhos de criança eu nem lembro mais, quando queria ser astronauta pra fugir desse mundo chato, quando eu queria poder voar pra chegar nas nuvens e sair do chão frio, sinto falta de quando eu tinha vontade e a frustração não me machucava tanto.
Encostei a cabeça no vidro e me deixei levar pelos vultos embaçados da vida passando la fora, enfiei as mãos nos bolsos e soltei um suspiro pesado de desanimo, olhei para o céu e vi o azul desbotar e embaçar com minhas lágrimas, nunca me senti tão só e longe de DEUS.
Aqui estou no mundo dos estranhos, onde uma criança é algemada em um porão e queimada com cigarros, já não sei onde vamos chegar... Opa, acho que sei sim.
A vida perde a graça quando o amor torna-se uma simples palavra, tudo fica chato e vulgar, o mundo perde a direção e as pessoas o seu valor próprio, queimam-se mendigos e joga-se crianças pela janela do apartamento, viver torna-se uma tarefa sem propósito, sem amor, morre-se um dia por vez.
Fugimos tanto do projeto inicial de DEUS que até o próprio DEUS chorou, somos de longe uma sombra grotesca e embaçada de DEUS, semelhantes a uma caricatura horrenda da perfeição, somos o resultados das escolhas erradas de uma humanidade covarde e egocêntrica que não sabe o que é amar.
Estamos tão apertados dentro de um ônibus lotado em nossa correria de cada dia, lutando para sobreviver com salários medíocres e dividas tão sufocantes, gostamos de fingir que estamos bem e que não há nada que possamos fazer, olhar as horas pra desviar o olhar de alguém com quem não queremos falar, gostamos de olhar a ferida do outro pra tentar esquecer um pouco da dor das nossas próprias feridas, vivemos os dias esperando uma bomba explodir em nossa rotina, uma válvula de escape para nossas frustrações, uma mão que nos puxe e nos salve desse mar frio, queremos que alguma coisa aconteça, estamos parados sob a chuva esperando o sol.
Como dói não sentir nada, como dói...

Nando Marthins

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