O primeiro dia depois do fim do mundo



O céu ainda está escuro lá fora e o frio ainda está dentro de mim

abri os olhos por força do hábito e levantei por obrigação

nada tinha gosto e nada tinha cheiro, as cores misturavam-se

em uma mancha embaçada e sem forma.

No ônibus lotado, olhos vazios cruzavam os meus olhos vazios

a vida segue em frente, a dor vem ao lado e o medo abraçado.

A garganta arranha e sufoca, as mãos formigam e as lágrimas sugem tímidas

uma lembrança saudosa de um dia anterior

a vontade de voltar e congelar o tempo

de não sair daquele momento nunca mais.

A brisa gélida entra forte pela janela tocando meu rosto cinzento

percebo que estou de volta ao lugar de onde nunca consegui sair

um certo desespero aperta forte agora.

Olhei as horas no celular e algo me fez relembrar seu rosto

um sorriso onde eu escondi a minha felicidade algumas horas atrás

parece que faz tanto tempo, talvez eu tenha dormido mil anos desde aquele momento.

como pode?

era um dia cheio de vida e de cor, cheio de cheiro e sabor.

O céu ainda está escuro e cinza lá fora

meu coração continua em minhas mãos

como um presente que foi devolvido

mas eu sei que ela sabe

sabe que a vida segue seu rumo

sabe que vou ficar bem no fim do dia

sabe que vou sentar em frente ao computador e voltar ao normal

logo tudo vai se concertar denovo

toda tempestade passa e é possivel recomeçar

o céu de repente não está mais tão cinzento

a brisa já não é mais tão gelada.

um passo de cada vez ainda que isso seja muito doloroso

continue respirando e tudo vai voltar ao normal...

Isso é o que me assusta.

(nando Marthins)

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